O Conturbado Caminho de Maduro até a Cúpula dos BRICS na Rússia

25
out
Postado por Mariana Oliveira
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O Conturbado Caminho de Maduro até a Cúpula dos BRICS na Rússia

Em meio a uma série de tensões internacionais e domésticas, o presidente venezuelano Nicolás Maduro decidiu empreender uma visita inesperada à cúpula dos BRICS em Kazan, na Rússia. Inicialmente, não estava em seus planos participar do encontro, mas as crescentes dificuldades enfrentadas pela Venezuela em sua tentativa de se juntar ao grupo, em especial diante da resistência do Brasil, o levaram a reconsiderar.

A principal barreira vem do Brasil, cujos representantes expressaram de forma clara a falta de oportunidades para a entrada da Venezuela no BRICS neste momento. Celso Amorim, assessor internacional do governo brasileiro, reiterou que, apesar de o Brasil não considerar a Venezuela uma inimiga, está insatisfeito com a atual situação no país vizinho. Isso tem origem, em parte, na maneira como decorreram as eleições presidenciais venezuelanas em julho, as quais o Brasil não reconheceu como legítimas.

A decisão do Brasil de não reconhecer as eleições venezuelanas aumentou as tensões entre os dois países, levando a um potencial rompimento de laços diplomáticos formais a partir de janeiro. A partir de 10 de janeiro, o Brasil planeja parar de reconhecer Nicolás Maduro como presidente legítimo da Venezuela, marcando um período de incertezas e redefinição das relações bilaterais. Esse desenlace é resultado de uma série de descontentamentos acumulados que Brasília nutre sobre a atuação de Maduro, descontentamentos esses que ressoam de maneira significativa nos círculos políticos internacionais.

No entanto, a resistência do Brasil não é partilhada por todos os membros do BRICS, sendo que a Rússia se posicionou de maneira favorável à entrada da Venezuela no grupo. O apoio russo reflete a relação histórica e estratégica que Moscou mantém com Caracas, uma relação que abrange desde parcerias comerciais até colaboração militar. Contudo, no cenário diplomático dos BRICS, as decisões não são unilaterais. O consenso requer uma anuência de todos os membros, tornando o processo de adesão sensível e politicamente complexo.

Enquanto a candidatura da Venezuela passa por turbulências, outros países são vistos com bons olhos para entrar no grupo internacional. Países como Cuba e Bolívia despertam interesse por parte do Brasil e são considerados candidatos potencialmente viáveis. Com a entrada recente de potências de peso e diversificadas como Irã, Etiópia, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos, o BRICS continua a complexificar e diversificar sua atuação geopolítica internacional. No entanto, a candidatura da Argentina encontrou resistência, bloqueada pelo recém eleito presidente argentino Javier Milei.

Neste tabuleiro internacional intricado, Maduro terá que navegar cuidadosamente. Embora tenha procurado o apoio russo, sua estratégia necessita de um acerto mais amplo no xadrez diplomático dos BRICS, onde a decisão final será tomada em conjunto pelos chefes de estado. O chanceler brasileiro Mauro Vieira, em articulação com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, será central nesse processo decisório. A situação demanda habilidade diplomática e uma reavaliação dos interesses bilaterais e internacionais, não somente para a Venezuela, mas também para os países que constituem o BRICS e os que almejam fazer parte desse bloco dinâmico e influente.

Com uma mudança do equilíbrio geopolítico emergindo no horizonte, a busca de Maduro por integrar a Venezuela ao BRICS pode simbolizar mais do que um simples alinhamento econômico: é uma manifestação clara de sua vontade de reposicionar o país num cenário global que lhe é cada vez mais desafiador. No entanto, essa aspiração enfrenta uma trilha longa e árdua que demandará persuasão, reconciliação e, principalmente, o reconhecimento de que o contexto internacional envolve mais do que simples interesses políticos ou econômicos limitados pela fronteira nacional.

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